O movimento global Fashion Revolution, que visa o alcance de uma moda mais consciente, sustentável e que valorize seus intérpretes acima do lucro, tem como principal campanha a Semana Fashion Revolution focada em distribuir ações no país todo entre os profissionais e os amantes de moda que lutam por um mercado de moda mais justo e igualitário.

Tendo 10 anos de história, o Fashion Revolution não poderia ficar longe de um dos maiores polos de produção na indústria da moda, o Brasil. Anualmente, durante os dias que cercam o dia 24 de abril, inúmeros projetos são desenvolvidos nas regiões do país, tais como oficinas, rodas de conversas e debates a fim de angariar mais visibilidade para as causas promovidas pelo Fashion Revolution.

O dia 24 de abril não foi escolhido por mera coincidência, além de lutar por uma indústria mais evoluída em inúmeros âmbitos, o movimento Fashion Revolution e a semana dedicada para ele, é uma forma de não esquecer quem não teve a oportunidade de viver as mudanças que iniciativas como essa promovem no mundo, que é o caso das vítimas da tragédia do Rana Plaza.

11 anos atrás, em Daca, capital de Bangladesh — alcunha que vemos com frequência na etiqueta de nossas roupas —, mais de 1.000 pessoas morreram no desabamento do edifício Rana Plaza que abrigava uma confecção de roupas e 2.500 pessoas ficaram feridas. O prédio de 8 andares era ocupado por trabalhadores, em sua maioria mulheres jovens, que conviviam com a situação precária da construção, além da exploração trabalhista que se encontravam. Inúmeros avisos tinham sido dados devido a rachaduras e vazamentos, porém foram ignorados e todos receberam a ordem de voltar ao trabalho sob ameaça de corte de salário caso não obedecessem. Grandes marcas multinacionais americanas e europeias tinham o Rana Plaza como sede de produção, e infelizmente não é comum que essas marcas tomem responsabilidade por tragédias como essa, no final das contas, trabalhadores, trabalhadoras e áreas ambientais são sacrificadas dia após dia em prol do lucro. 

E o Brasil, que é considerado o local de produção na área têxtil mais completo do Ocidente devido sua atuação em praticamente todas as áreas do processo produtivo, desde a produção de matéria prima até o varejo, também tem problemáticas intrínsecas em relação à Indústria da Moda.

As pressões do fast fashion (uma moda rápida, movida por tendências) fazem com que peças sejam produzidas por pequenas empresas com baixa profissionalização e que não têm perspectiva de crescimento, fazendo com que o investimento em melhores condições de trabalho, melhores materiais e melhor espaço de confecção seja escasso, sem contar nas situações de condições análogas à escravidão de trabalhadores e até imigrantes no país, a falta de fiscalização e regularização das empresas presentes na cadeia de produção, problemáticas relacionadas ao meio ambiente e a exploração dos recursos naturais. São todas essas adversidades que o Fashion Revolution combate e denuncia com seu trabalho que nasceu um ano após da tragédia do Rana Plaza.

O movimento não apenas protesta contra situações como as citadas, mas ele utiliza profissionais e pessoas que precisam ser ouvidas como porta-vozes para trazer cada vez mais visibilidade para essa causa. É o caso da estudante de jornalismo da Universidade Federal da Paraíba e representante do Fashion Revolution em João Pessoa, Kananda Arao (@kanandaarao) e da designer de moda e stylist Cames (@camesz) que se reuniram na UFPB para uma roda de conversa que discutiu assuntos imprescindíveis para o mundo da moda. 

Tópicos que são normalmente ignorados por grandes marcas — o que é completamente inaceitável — a designer traz como pauta em suas redes sociais e em seus trabalhos, como o upcycling (reaproveitamento de modelos e retalhos que não iriam ser mais utilizados), técnica usada constantemente em suas peças. 

Na mesma perspectiva, Kananda faz questão de reforçar a importância da mídia na resolução de problemáticas tão complexas como a da cadeia de produção da moda. Ela relata sobre como é dever, não só dos profissionais da comunicação de forma individual, mas também dos grandes meios de comunicação, dar voz a quem precisa ser escutado.

Projetos como o Fashion Revolution e profissionais como Cames e Kananda deixam explícito como é fundamental voltarmos nossos olhos às causas que nos rodeiam e como somos relevantes no processo de alcançar uma indústria cada vez melhor, pois é através das nossas denúncias, das nossas iniciativas de falar sobre assuntos que as grandes empresas insistem em esquecer, da nossa cobrança para que quem possa fazer mais que nós, aja imediatamente, do destaque que devemos dar para pequenos produtores, para designers que representam o nosso Brasil, para os polos de varejo tradicionais do nosso país, construiremos uma moda muito superior, mas não necessariamente em lucro, e sim em boas condições de trabalho, sustentabilidade e igualdade. 

Deixe um comentário

Tendência