No dia 19 de abril é comemorado no Brasil o dia dos Povos Indígenas, população que antes mesmo da chegada dos portugueses em 1500 já habitava as terras de Pindorama (nomenclatura que designa o território do litoral brasileiro pelos povos de língua tupi).

Por séculos, infelizmente, os povos indígenas brasileiros são subalternizados e invisibilizados na sociedade devido um longo processo de apagamento social. Contudo, os indígenas sempre resistiram e lutaram pela sua existência e cultura.

No cenário audiovisual, muitas vezes os povos originários são registrados a partir da lente de diretores que não compartilham as mesmas experiências, afetando a narrativa. Pensando nisso, trouxemos alguns cineastas indígenas que trazem um olhar excepcional para as telas.

Alberto Alvares

(Imagem: Reprodução/Agência O GLOBO)

Diretor e roteirista, Alberto Alvares é pertencente da etnia Guarani Nhandewa da aldeia Porto Lindo, localizado no Mato Grosso do Sul. Além de ser montador da produtora Nhamandu Produções, ele também trabalha com tradução e ensino da língua Guarani.

Com uma vasta filmografia, principalmente sobre sua etnia e conhecimento transmitido pela oralidade, ele tem trabalhos que se destacam, como Karai Ha’egui Kunhã Karai ‘ete – Os verdadeiros líderes espirituais de 2014, que retrata sobre o líder espiritual Guarani Alcindo Moreira da Terra Indígena de Biguaçu, em Santa Catarina e que dedica sua vida para o ensinamento oral da sabedoria e espiritualidade do povo Guarani.

Já em O último sonho de 2019, o enredo é sobre o líder espiritual Guarani Wera Mirim – João da Silva – da aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, falecido em 2016, mostrando a importância da sua figura para a comunidade pelos seus ensinamentos e sabedoria.

Alguns dos seus trabalhos se encontram disponível no canal da sua produtora, Nhamandu Produções, no Youtube.

Sueli Maxakali

(Imagem: Reprodução/Embaúba Play)

É uma cineasta, educadora e fotógrafa indígena do povo Tikmũ’ũn, mais conhecidos como Maxakali, que se dividem em comunidades no Vale do Mucuri em Minas Gerais. Em parceria com Isael Maxakali, seu companheiro, ela tem trabalhos intitulados Quando os yãmiy vêm dançar conosco (2011), Yãmiyhex: as mulheres-espírito (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020).

Yãmiyhex: as mulheres-espírito de 2019 é um dos seus trabalhos mais conhecido, sendo exibido em festivais nacionais e vencedor da Mostra Olhos Livres na 23ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. Para registro da própria cultura, os diretores trazem no documentário os preparativos e festa do ritual de partida das mulheres espíritos, as Yãmiyhex, da Aldeia Verde, que retornam para visitar parentes.

Disponível no streaming MUBI e Itaú Cultural Play.

Divino Tserewahú

(Imagem: Reprodução/Embaúba Play)

Pensando o cinema como maneira de resistência, Divino é cinegrafista do povo Xavante da aldeia de Sangradouro, Mato Grosso do Sul.
Tendo começado sua carreira ainda nos anos 90, é um dos pioneiros no ramo audiovisual indígena e tem produções premiadas em festivais de cinema nacionais e internacionais. Algumas destas produções são: Waiá Rini, O Poder do Sonho (2001), Daritidzé, Aprendiz de Curador (2003), Sangradouro (2009) e PI’ÕNHITSI, Mulheres Xavante sem nome (2009).

Focando em temáticas de resistência e rituais do povo Xavante, Divino evidencia os desafios que a comunidade enfrenta, bem como registra seus costumes, valorizando a memória e a preservação dos ensinamentos dos mais velhos.

Patrícia Ferreira Pará Yxapy

(Imagem: Reprodução/Itaú Cultural)

Pertencente da etnia Mbyá-Guarani, ela mora na Aldeia Ko’enju, em São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul, onde também é professora.
Enxergando o cinema no sentido de reflexão sobre a própria cultura, ela dirigiu Teko Haxy – Ser imperfeita de 2019 com Sophia Pinheiro, artista visual não indígena. A partir de uma filmagem simples e conversas cotidianas entre elas, vemos o encontro entre mundos distintos pensando sobre suas vivências femininas e a ideia de perfeição.

Outros trabalhos seus são: As Bicicletas de Nhanderu (2011), TAVA, a casa de pedra (2012), No caminho com Mario (2014) e Nhemongueta Kunhã Mbaraete (2020).

Ademais, no streaming gratuito do Itaú Cultural Play há disponível uma mostra muito interessante contendo algumas das produções citadas aqui. Sob o título de Um outro olhar: cineastas indígenas e organizado pelo forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte, estão reunidos trabalhos audiovisuais de etnias variadas e com temáticas distintas, destacando a força e pluralidade indígena.

As produções audiovisuais que fazem parte são:

  • Abdzé Wede’õ – O Vírus Tem Cura? de 2021, retratando o impacto da pandemia de Covid-19 para o povo Xavante, com direção de Divino Tserewahú.
  • Bimi Shu Ikaya – Bimi com o poder de sopro (2018) dirigido por Isaka Huni Kuin, Siã Huni Kuin e Zezinho Yube acerca da primeira mulher indígena organizadora de uma aldeia no Acre.

Também fazem parte os já citados Yãmĩyhex – as mulheres-espírito (2019) e Teko haxy – ser imperfeita (2018).

É uma forma de conhecer a diversidade cultural entre as várias etnias brasileiras pelos olhares dos próprios indígenas, que por séculos foram retratados pelos olhares dos colonizadores, bem como suas perspectivas sobre diversos aspectos da vida e notar a beleza da pluralidade humana.

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